Chega de preconceito: Dilma Rousseff é uma excelente candidata à Presidência da República. Talvez a melhor entre os que estão no jogo. Poderia, quem sabe, ter as preocupações ecológicas de Marina Silva. Aí ela seria perfeita. Diz-se que não tem experiência eleitoral. Pouco importa. Sempre é tempo de começar. Afirma-se que ela não tem experiência administrativa. Tem muito mais, por exemplo, do que Luiz Inácio quando foi eleito. É economista. Já foi secretária da Fazenda de Porto Alegre; secretária de Minas, Energia e Comunicação do Rio Grande do Sul; ministra de Minas e Energia; e ministra da Casa Civil.
Tem, na verdade, um extenso currículo. Quais os seus defeitos então? É antipática, de faca na bota, esquerdista e foi guerrilheira. Simpatia é papo de marqueteiro. Os preconceitos contra Luiz Inácio incluíam o fato de ele não ter um dedo, não ter formação universitária, dizer vez ou outra “menos” e “a nível de” e querer redistribuir renda no Brasil. Hoje, o “analfabeto”, depois de quase oito anos de governo, tem quase 80% de aprovação popular, o melhor nível da economia brasileira nos últimos 30 anos, política social com sensibilidade de primeiro mundo e reconhecimento internacional de matar de inveja o doutor FHC. No meio do caminho, claro, tinha um mensalão. Quem não tem um que jogue a primeira pedra. Falta denunciar a política repressiva de Cuba. O cachimbo e a foice entortam a boca.
Dilma é competente, séria e dura na queda. Participou de assalto a banco? E daí? Era uma jovem idealista que acreditava numa sociedade melhor e lutava contra uma ditadura que não se constrangeu em usar métodos medievais como a tortura para combater seus adversários. Afinal, quem tem mais do que se envergonhar? Quem assaltou banco e seqüestrou por acreditar, mesmo errando, que esse era o caminho para um Brasil melhor ou quem torturou e matou para manter o Brasil sem mudanças substanciais? Dilma já encostou no Serra. Tem tudo para ultrapassá-lo assim que começar a campanha. Talvez antes. A direita está desesperada. Tenta de tudo. Nada funciona.
A elite brasileira é predadora. Ainda critica o Bolsa-Família. Tem gente que detesta o Bolsa-Família por maldade. É aquele tipo de pessoa ruim que defende o “cada um por si” e o “azar o deles se não têm o que comer, que trabalhem”, mesmo não existindo emprego. Tem outro segmento social que odeia o Bolsa-Família por uma razão ainda mais egoísta: gostaria de ficar com o dinheiro destinado a esse fim. São os ricos predadores do Estado, sempre em busca de um financiamento barato ou de uma compensação por perdas no cassino econômico. A eleição de Dilma impedirá alterações profundas nessa política que vem dando certo. O povo sabe que não se mexe em time que está ganhando. Daí o bombardeio em cima da candidata.
O jogo está feito. Dilma tem fortes chances de ser a primeira mulher a governar o Brasil. Parte de bases sólidas. Nos debates, com seus conhecimentos técnicos, vai ficar longe da demagogia habitual. Certo, Dilma não tem o carisma do chefe. Mas tem algumas vantagens essenciais: não é corintiana nem faz metáforas futebolísticas.
Texto do jornalista Juremir Machado da Silva,
publicado no Correio do Povo.
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